TEXTO TATIANA FERREIRA
"Deus teve misericórdia e compaixão de mim", disse Claudia Leitte, aliviada, na terça-feira 5, após saber que o filho não corria mais riscoNa noite da terça-feira 5, depois de cerca de 36 horas de apreensão, a cantora Claudia Leitte desabou no choro. "Deus teve misericórdia e compaixão de mim", disse ao receber a notícia de que seu filho, Davi, de três meses e meio, não corria mais risco de morte, após ter contraído meningite meningocócica bacteriana. O bebê chegou e foi prontamente atendido na emergência do Hospital Copa D'or, em Copacabana, no Rio, às 17h10 da segunda-feira 4, em estado de choque, com a pressão a 6 por 4 e taquicardia. Como seu quadro era gravíssimo, foi internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), onde permaneceu até o início da noite de quarta-feira 6.
O drama da cantora começou no final da manhã daquela segunda-feira, quando levou Davi para a Clínica Perinatal, da Barra da Tijuca, após observar manchinhas na pele do filho. Lá, foi informada que o bebê estaria com uma virose. Sem confiar no diagnóstico, ela seguiu com Davi para o Projac, para participar da gravação do programa de Luciano Huck. As manchas preocupavam Claudia. Depois, ela disse aos familiares ter recebido uma mensagem de Deus, dizendo que ela devia socorrer o filho. "Deus foi muito perfeito! Ele me disse: 'Leve agora seu filho ao hospital'."
Foi nesse momento que ela teria decidido ligar para sua dermatologista, a médica Kar
la Assed. Por estar fora do Rio, a profissional lhe indicou a pediatra Jussara Reis, médica-chefe da CTI pediátrica da Beneficiência Portuguesa de Niterói. Pouco tempo depois de ter recebido o chamado, por volta das 14h30, Jussara já estava no Projac, o que teria sido decisivo para salvar Davi. Diante do quadro grave em que encontrou o bebê, a médica recomendou levá-lo para o hospital.
Sem voltar ao camarim depois de sua gravação, Claudia seguiu para o Hospital Copa D'Or, ao lado da pediatra. Apesar da gravidade do caso, Davi conseguiu se recuperar e está livre de sequelas. "Abaixo de Deus, esta médica foi fundamental na recuperação do meu filho", disse Cláudia. No hospital, a família recebeu o apoio de amigos como Xuxa, Luciano Huck e Angélica e Preta Gil.
Passado o susto, a cantora comemorou a recuperação do filho no domingo 10, Dia das Mães, ao lado do marido, de seus pais, dos sogros e outros familiares. "Meu maior presente hoje é o Davi estar com saúde. Não estou triste de estar aqui, porque o meu filho está bem", disse Claudia para a mãe, Ilna. Todos almoçaram no hospital, que teve como cardápio paleta de cordeiro com purê de mandioca. Na sobremesa, torta de morango, levada pela mãe de Claudia, que está preocupada em reforçar a alimentação da cantora. Depois de cerca de 72 horas sem dormir e sem comer direito, Claudia perdeu peso. No sábado 9, o segurança da família foi comprar uma feijoada a pedido de Márcio. "Na hora do sufoco, eu e Claudia seguramos a onda um do outro. Tem horas em que estou mais nervoso e ela mais calma", disse Marcio, na terça-feira 5 pela manhã. "É uma lição de vida. A gente não é nada. Uma manchinha que apareceu na pele e a gente não imaginava que pudesse chegar ao quadro que chegou."
A cantora se manteve forte e positiva nos momentos mais críticos da internação de Davi, mas como toda mãe, segundo a médica Jussara Reis, ela sentiu medo de ser responsável pela condição do filho. "As mães sempre acham que podem ser onipresentes e com ela não foi diferente. Ela queria entender o que houve, quis saber se poderia ter feito diferente. Como toda mãe, perguntou, 'onde foi que eu errei'? Eu disse a ela que não, que o 'erro' nessas histórias é amar demais o filho." (leia entrevista na pág. 26)
De acordo com os boletins médicos divulgados até a segunda-feira 11, Davi está fora de perigo. Na terçafeira, ele seria submetido a uma tomografia e a alta estava confirmada para a da manhã quarta-feira 13.
''DAVI ESTAVA NUM QUADRO DE CHOQUE, COM AS MÃOS E OS PEZINHOS ROXOS''
A MÉDICA JUSSARA REIS, CHEFE DO CTI INFANTIL PERINATAL E PEDIÁTRICO DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE NITERÓI, FOI A PRIMEIRA PROFISSIONAL A ATENDER DAVI Como estava o Davi quando a senhora chegou ao Projac?
O que foi feito naquele momento?
Quanto tempo levou até que vocês se dirigissem ao hospital?
Ele estava no colo de Claudia chorando muito e bastante irritado. Eu olhei a perna dele e estava toda roxa. Levei-o ao fraldário para examinar e ao tirar a roupinha, percebi manchinhas vermelhas -- o que chamamos de petéquias, que são manchas hemorrágicas --, distúrbio de perfusão, e ele estava taquicárdio. Ele estava num quadro de choque com as mãos e os pezinhos roxos e gelados.
Disse a ela, na hora, que precisávamos ir para um hospital com suporte pediátrico mais próximo. Ela não discutiu e disse: 'Vamos agora!' Ele estava muito irritado e chorando, não mamava direito, havia vomitado uma mamadeira de manhã. O estado dele era bem grave. Era um quadro iminente de risco de vida, a situação era crítica.
Quinze minutos após chegar no Projac, eu já estava saindo de lá com a Claudia e o bebê. A situação foi piorando na estrada. Começamos a fazer alguns procedimentos, colocar soro. Ele estava ainda mais caidinho, as manchas aumentando a olhos vistos, a pressão baixou, mas, imediatamente, começamos a tratar. Partimos para resolver o problema mesmo sem a confirmação do diagnóstico. Em medicina, a clínica é soberana. Se você tem o exame clínico e a hipótese do diagnóstico, você tem que tratar. Esperar os resultados dos exames para depois tratar, pode ser que não dê mais.
Ele reagiu bem aos primeiros procedimentos?
Como ele reagiu logo depois de dar entrada no hospital?
Quando Davi começou a passar mal?
Quando ele começou a melhorar?
Como Claudia ficou nesses momentos mais tensos?
Ela foi criticada por expor muito o menino. Qual a sua avaliação como médica?
Claudia não chorou?
Como está o Davi agora?
Algum risco de sequelas?
''CLAUDIA FOI UMA LEOA''
Quando nós subimos com o Davi para o CTI, depois de tudo que foi feito logo na chegada ao hospital, ele já estava mais acordadinho, a pressão arterial era de 6 por 4, quando o normal para um bebê de 3 meses é 8 por 5 e sinais clínicos. A Claudia contou que ele não estava urinando havia algum tempo.
Chegamos ao Copa D'Or às 17h10 e consegui reverter o quadro de choque. Às 23h50, ele já estava com a pressão normal, urinando e, como tinha feito antibiótico e corticóide, estava com drogas para controlar a pressão. Tudo direcionava o Davi para um quadro bacteriano e a clínica dele para um choque de meningite meningocócica, em que o paciente pode evoluir para a morte em poucas horas. Mas quando você consegue vencer a fase de choque, o paciente se recupera bem, sem sequelas. A gravidade dela é no momento em que a doença se instala.
Na segunda-feira, por volta de 13h30, a caminho do Projac, Claudia já tinha notado que alguma coisa acontecia com o Davi. Foi a uma clínica e disseram que não era nada, apenas uma virose. Ela ficou angustiada e disse que Deus avisou a ela que algo errado estava acontecendo. Foi quando ligou para a dra. Karla Assed, a dermatologista dela. Ela sabia que o Davi estava esquisito. Ele é uma criança sorridente e brincalhona e estava extremamente irritado e só chorava. Foi quando ela observou manchas na pele. Mas não sabia o que era. Poderia ser uma picada de mosquito, uma virose. A evolução foi tão aguda que não houve tempo de uma resposta medular importante.
Na manhã da terça-feira 5, eu saí do hospital e já o deixei com 11,5 de pressão, urinando, com pulso palpável. A frequência cardíaca, que estava 205, já tinha caído para o normal, 120. Ele já estava sorrindo e brincando, já tinha saído da fase crítica.
A Claudia foi muito forte. Ela foi mãe acima de qualquer coisa. Foi decidida e esteve sempre muito positiva. Depois, a gente conversou muito. Naquele momento, eu não tinha colocado o grau da situação para não desesperar, mas eu vim em desespero. No carro, ao lado dele, com a mão no pulso o tempo todo e torcendo para chegar a tempo.
Eu acho que o crime que ela cometeu nessa história foi amar demais o filho e querer ser mãe. Na verdade, ela não queria parar de amamentar. O Davi não ia para lugares públicos com ela, as viagens eram em jato particular. A Claudia ganhou um presente de Deus duas vezes. Quando ele nasceu e agora... Deus deu porque ela merece.
Sim, na terça-feira 5, na hora em que eu disse que havia acabado o risco de vida. Ela desmontou e chorou tudo o que tinha para chorar.
Está a coisa mais fofa do mundo.Com bochechas rosadas igual a europeu e dormindo com os braços abertos. Só está tomando antibiótico porque são 10 dias de tratamento venoso.
Ele está ótimo e todos os exames deram normais.
ILNA LEITE, MÃE DA CANTORA, FALOU À GENTE NO HOSPITAL COPA D'OR EM DUAS OCASIÕES, NA QUARTA-FEIRA 6 E NA QUINTA-FEIRA 7
Como estava Claudia no momento em que pediu à senhora para ir ao Rio?
Claudia segura muito a barra. Depois que passa tudo, ela desaba, chora...Mas quando tem que resolver, tem que estar presente, agindo, ela segura direitinho. Ela me ligou para eu vir porque estava precisando de mim, porque nessa hora mãe faz falta. É Davi precisando dela e ela precisando de mim. É uma corrente, mas agora Davi está ótimo, graças a Deus.
Como ela reagiu à sua chegada?
Quando cheguei, a Claudia estava no CTI (Centro de Terapia Intensiva) com o Davi. Ela não chorou quando me viu. Ela estava triste, chorou depois que Davi estava recuperado, quando soube que não tinha perigo de nada, depois que ele passou para a semi-UTI. No momento em que ela soube que o Davi não corria mais risco nenhum de morte, ela desabou. Foi a hora em que ela chorou, orou e agradeceu a Deus.
Como foram os dias no hospital?
Você não percebe se é dia, se é noite, se está com sono, você não tem fome. Claudia passou 72 horas sem dormir nada. Somente na terça-feira 5 ela conseguiu pegar Davi, já na cama, e colocá-lo no peito, como ele gosta. Ela encostou na poltrona e eles ficaram lá cochilando. Ela faz isso no dia a dia normal deles. Ele mama e dorme no peito dela, depois é que ela põe na cama. Na quartafeira ele já estava sem os monitores e já pôde dormir de barriga para baixo, deitadinho do jeito que ele gosta.
Como Claudia está agora? Feliz, muito feliz. Ela não estava tendo apetite...Claudinha emagreceu muito. Se antes disseram que ela fez lipo, agora vão dizer que ela foi sugada por uma mangueira de apagar incêndio. Ela deve ter emagrecido mais de três quilos, ela está muito magrinha e Márcio também emagreceu, está chupadinho...
Claudia foi criticada por expor Davi. O que acha disso?
As pessoas não entendem que mãe é mãe. É o que eu digo sempre: se fosse assim, filho de cigano não vingava. Porque eles são nômades. A vida de Claudia é assim. Ela pariu o filho e não tem que deixá- lo com ninguém. Eu não vejo em que sentido Claudia pode prejudicar o filho dela. Não tem surto de meningite. A coisa está aí, pode acontecer com todo mundo. As pessoas podem julgar o trabalho de Claudia, mas ela, como mãe, não podem. Se eu pudesse parir hoje, eu copiaria Claudia como mãe. Apesar de eu ter sido uma boa mãe, ela é um exemplo para mim.
Ela pretende diminuir o ritmo de trabalho para ficar mais perto de Davi?
Muito mais. Ela estava falando que vai reformular tudo em função dele. Disse que não abre mão mais de ele ser prioridade. Se Claudia já era grudada, agora vai ficar pior (risos). Acho que até, de repente, pode diminuir a maratona de shows. Tem um julgamento alheio que diz que ela quer dinheiro, sucesso e fama. O lance não é esse.
A senhora temeu pela vida de seu neto?
Para ser sincera, houve um perigo e um risco, sim. Só que ele é tão saudável que parece que tem seis meses e não três. Ele come igual um touro. A lipoaspiração de Claudia é o Davi. Então, eu acho que por ele ter esta estrutura, a recuperação será uma beleza.
E Claudia temeu?
Claudia foi uma leoa, segurou tudo. As pessoas diziam que tinha que fazer tal procedimento, ela respondia: 'faça, quero o meu filho são'.
Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/edicoes/505/artigo134596-2.htm
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