Completando dois anos de carreira solo, a cantora Claudia Leitte, 29 anos, lançou no Domingão do Faustão, seu primeiro trabalho de estúdio. O CD As Máscaras tem pitadas de estilos diferentes, como afoxé, hip hop e reggae. Nesta entrevista exclusiva, a carioca radicada na Bahia, diz que o medo não faz parte de sua vida. “Não temo nem a morte”, completa.
Uma vez, você disse que a Claudia dos palcos não é a mesma que vai para casa. Como é isso?
Quando você vai entrevistar alguém, você é exatamente a mesma pessoa que é em casa?
Não.
É exatamente isso. As pessoas têm mania de acreditar que o famoso é exatamente aquilo que elas vêem. Mas não é assim. É como o Lulu Santos disse: “Não leve o personagem pra cama. Pode acabar sendo fatal”. Se você dorme ouvindo todo mundo dizer que você é linda, vai achar que tudo o que faz é lindo. Preciso ter um limite. Saber que sou uma pessoa normal, como outra qualquer.
Consegue passar bastante tempo com seu marido (o empresário Márcio Pedreira)? Ele reivindica muito a sua presença?
Mesmo eu passando muito tempo perto dele, ele reivindica minha presença. E eu a dele. Ontem, ele foi para Salvador e eu fiquei aqui (em São Paulo), morrendo de saudade. Ele ia voltar amanhã. Mas fez uma surpresa e voltou no meio da madrugada.
Você acha que, com amor, entre quatro paredes vale tudo?
Acho.
O quê, por exemplo?
Prefiro guardar isso para mim.
Tem o mesmo fogo dos palcos entre quatro paredes?
No palco eu revelo. Mas o fogo do quarto eu guardo para mim. Só revelo para o meu marido.
Você é um símbolo sexual, mulher casada e mãe. Como é lidar com essas imagens?
É fácil. É só saber que amanhã vou estar velha e pelancuda e não vou mais ser símbolo sexual nenhum.
Fale um pouco sobre seu novo CD. Quais são as influências e participações especiais?
Chama-se ‘As Máscaras’. Apesar de ter mantido minha essência em todas os arranjos, em todas as faixas, no meu timbre, me vesti de várias formas, porque passeei por diversos estilos. Tem hip hop, samba, afoxé, e reggae. Participações de Travis McCoy, Belo, Deeplick, nos arranjos das músicas, ele é um cara que já fez arranjo para Shakira, Seu Jorge, pra Ricky Martin. Por se tratar do meu primeiro disco de estúdio em carreira solo acho que fui mais ousada.
Quais são as artistas atuais que você escuta?
Tenho escutado uma banda chamada The Gossip, esqueci o nome da cantora agora (Beth Ditto), ela é muito jovem e tem um visual incrível, é uma banda maravilhosa.
O que acha de Lady Gaga?
Acho a Lady Gaga simplesmente ótima. Inclusive, usei uma roupa inspirada nela no meu novo clipe, da música Famo$a.
Acha que a Cristina Aguilera está imitando a Lady Gaga, como estão dizendo nos Estados Unidos?
Não existe idéia singular no mundo. As idéias estão no ar. Quem pegar primeiro, leva. Se você olhar direito, vai perceber que os corsets que a Lady Gaga usa são parecidíssimos com os que Madonna usava nos anos 80.
Não teria problema se alguém imitasse você, por exemplo?
Que nada! Ninguém vai me imitar. Alguém pode até descobrir alguma coisa que tenha visto em mim e vai usar com a sua essência. Talvez, possa lembrar alguma coisa que fiz, mas não existe nada singular criado pelo homem.
Sua mãe trabalha com você?
Ela que cuida do dinheiro, administra minhas finanças, imóveis, investimentos, minhas coisas. É bom trabalhar em família.
Qual foi o bem mais caro que já comprou?
Não sei, sinceramente. Se quero uma coisa, eu vou lá e compro. Mas não sou o tipo de pessoa desvairada que sai comprando compulsivamente. Não presto atenção no preço das coisas e não sou de comprar coisas muito caras.
Você tem um avião?
Tenho. Mas não sei se foi a coisa mais cara que já comprei. As pessoas associam avião a luxo. Mas avião não é luxo. Dentro da minha maratona profissional, ter um avião é crucial. Ele tornou minha vida possível. Sem avião, não seria possível fazer o que faço. Eu dormia em aeroporto e chegava atrasada a todos os meus compromissos. Agora, consigo levar uma vida normal dentro disso tudo.
Você sabe quantos imóveis tem?
Juro que não sei.
Mora na Bahia?
Não sei onde moro mais. Sou uma tartaruga. Levo minha casa nas costas. Tenho casa na Bahia, onde estão a maioria das minhas coisas e onde quero ficar velhinha. Mas atualmente estou em São Paulo, no Rio. Sou nômade.
Tem apartamento no Rio de Janeiro e em São Paulo?
Tenho.
Você segue alguma religião?
Não. Religião é uma coisa instituída. Acredito em Deus, acredito em Jesus Cristo, faço estudos, orações, converso com Deus todo dia. Mas nunca senti necessidade de ter uma religião. Sempre fui muito espiritualista. Acredito muito em Deus. Nunca aconteceu nada drástico na minha vida que tenha aumentado a minha fé. Mas sempre tive razões para acreditar que Deus é capaz de tudo.
O episódio com Davi (ano passado, o filho dela teve meningite) não mudou sua visão de Deus?
Não. Aquele episódio serviu pra me colocar em alerta. Saber que isso pode acontecer com qualquer um. E eu sou qualquer um.
Você tem medo de não conseguir ser uma boa mãe?
Tenho preocupação com os exemplos. Acho que bater e gritar não podem fazer parte do dia a dia de uma criança. A maternidade é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que você quer proteger, tem de deixar o filho sozinho. Não quero que ele saia com ninguém. Parece que só eu sei cuidar. Acho que vou ter de administrar isso.
Você não fica longe dele nunca?
Faço o maior sacrifício, mas meu filho é criado comigo. Já passei 24h longe de Davi e foi péssimo.
Pensa em ter outros filhos?
Sim. Quero ver minha casa cheia
Já fez alguma besteira na vida que não quer que Davi repita?
Várias. Tomara que Davi nunca saia escondido, por exemplo. Eu fazia isso com minha mãe, e morro de medo que ele faça. Eu fazia aula de dança. Só que minha mãe falava que não era para eu ir, porque tinha de estudar. Não me arrependo de ter ido, mas me arrependo de ter mentido para minha mãe. Tomara que Davi saiba disso e não repita.
Você tem medo de alguma coisa?
Não. Nem de fantasma (risos). Posso já ter vacilado, ter ficado receosa. Mas não tenho medo. O medo não faz parte da minha vida, e nunca vai fazer. Não tenho medo nem da morte. Confio em Deus.
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