quarta-feira, 25 de novembro de 2009

[Quem] Claudia Leitte: "Não tinha dinheiro para sapato novo"

Cantora relembra dificuldades financeiras, declara amor ao marido e fala do filho, Davi


Carol Sachis

“Agora sou toda sua.” Foi assim, brincando, que Claudia Leitte deu o sinal verde para esta entrevista. Entre compromissos de divulgação de sua nova música, “As máscaras”, lançamento de seus perfumes pela Jequiti, preparativos para seu cruzeiro, que começa em 11 de dezembro, a reportagem de QUEM passou um dia com Claudia, que era seguida por uma equipe de filmagem, que produz um documentário sobre ela.

Antes de entrar na sala preparada para o papo, no Hotel Renaissance, na região dos Jardins, em São Paulo, a cantora passa pela recepção e pega dois pirulitos de um pote. “É um para mim e um para o meu amigo”, explica ao recepcionista. Na sala, preparada com sanduíches e petiscos, ela ignora a sofisticação e puxa para perto uma bandeja de queijo. “Vamos comer tudo!”, convida, ao se servir, com a mão mesmo, de seu primeiro pedaço.

Após alguns minutos de conversa – muita conversa –, Claudia se abre e fala da infância feliz, mas difícil, do filho, Davi, do amor pelo marido, Márcio Pedreira. Chora em vários momentos do bate-papo. “Menino, estou fazendo uma terapia aqui com você”, diz. No fim da entrevista, Claudia se despede, passa pela recepção com um sorriso no rosto, pega mais dois pirulitos e se explica: “É que os outros já acabaram”.

QUEM: Já vi várias fotos suas, de criança, posando de cantora, com fantasias. Era sua mãe quem te incentivava?
CLAUDIA LEITTE:
Minha mãe, se pudesse, teria me afastado de todas as maneiras. Não que ela fosse preconceituosa com os artistas, mas ela tinha medo. Quando eu nasci, ela tinha 21 anos e na década de 80 foi aquela explosão da Aids... Mas ela conta que, aos 3 anos de idade, eu estava num final de tarde numa happy hour, em Itapuã, e tinha um cara cantando. Eu fui lá num intervalo, levantei o pezinho para alcançar o microfone e comecei: Emília, Emília, Emília... (música do Pirlimpimpim, especial infantil da Globo, interpretada por Baby Consuelo).

QUEM: Quando foi que sua mãe viu que não tinha mais jeito?
CL:
Ah, foi aos 14 anos. Antes disso, eu brincava de cantar escondido dela. Eu dizia que ia para a igreja, mas na verdade estava era dançando no fundo da igreja, na aula de dança comunitária que tinha por lá.

"Não tinha dinheiro para sapato novo... resolvi pedir para a mãe preta (babá) o tênis dela. Só que era muito maior... quando cheguei (na escola) começaram a gritar: bozo! Bozo!"

QUEM: Como era sua infância na época?
CL: Feliz, mas difícil. Meus pais estavam bem ruins de grana. Meu pai largou tudo em São Paulo para morar na Bahia com minha mãe. Ele começou a trabalhar na área de recursos humanos e não se encontrava. E o dinheiro foi acabando... A gente estava na escola e essa época foi uma dureza. Minha mãe com dois empregos, na Politeno (indústria de material plástico) durante a noite, e dando aula o dia inteiro, de química e biologia. Ela subia o morro de Amaralina, um lugar muito pobre, para dar aula. Ela trabalhou até o momento em que comecei a fazer sucesso e ficou complicado.

QUEM: Complicado como?
CL: Um dia começou um papo de sequestro, sabe? Aí, ela veio trabalhar comigo... Mas, até chegar nisso, eu sofri um pouco na escola.

QUEM: Por causa dos colegas?
CL: É. Estava no (colégio) Sacramentinas. Tinha 9 para 10 anos. Era época de Olimpíada e eu estava me aprontando para ir para a escola de camisa rosa, mas meu tênis Conga estava velho, tinha um buraco na frente. Minha mãe já tinha comprado a camisa e não tinha dinheiro para o sapato novo. Então, pedi para minha mãe preta (a babá de Claudia) o tênis dela. Só que era muito maior que meu pé. Quando cheguei, começaram a gritar: “Bozo, Bozo!”. Eu sofri tanto!

QUEM: Mas eles sabiam que sua condição financeira não era das melhores?
CL: A galera sabia. E aquilo acabava se espalhando, sabe? Tipo, “a mensalidade de Claudinha está atrasada”. Atrasou, sim, mas pagou tudo! Outra vez, pediram para eu desenhar minha casa, só que minha casa era bem pobrinha. Vi gente desenhando mansão... aí, por medo de ser excluída, fiz um desenho com um toboágua saindo da janela, que caía numa piscina. Mandaram chamar minha mãe, perguntaram o que estava acontecendo. Minha mãe, então, me perguntou sobre o desenho e eu disse: “Minha mãe, como é que eu ia desenhar minha casinha na Saúde, com buraco na parede, cheia de goteira?” E ela começou a chorar... Menino, estou fazendo uma terapia aqui com você.

QUEM: Mas era boa aluna?
CL: Olha... (risos) Sempre tive notas ótimas. Mas minha mãe foi chamada na escola várias vezes...

QUEM: Qual o motivo?
CL: Eu já fui convidada a procurar outra instituição para ver se eu me adaptava em outro lugar. Eu era muito inquieta, sabe? Eu era a Madonna na escola! Eu fazia show em cima da mesa, meu apelido era Madonninha. Era uma peste! Não posso deixar que Davi leia isto mais pra fente. Ele tem que achar que sempre fui quietinha (risos)! Ainda mais que ele já está começando a dar indícios de que vai ser arretado, sabe? Ele é muito alegre e rápido. Fala “mamã”, dá tchau e beijo.

QUEM: Ele aceita bem quando você sai de casa para trabalhar?
CL: Hoje, na hora que tive que sair, ele ficava se jogando e me agarrando. E ele chora, a mãe chora...

QUEM: E quando criticam seu papel como mãe?
CL: Eu sei o que faço por ele. Eu trabalho muito para que não falte nada a meu filho e para que as gerações que venham tenham o conforto que não tive. Mas, se um dia ele passar por qualquer necessidade, Davi sempre vai ser amado e bem cuidado e vai ter o melhor que um ser humano pode ter em se tratando de espírito, de amor. De coisas que o dinheiro não paga. Não tenho culpa de ter que sair para trabalhar. Eu o cubro com tanto carinho! Ele é minha vida (nesse momento, Claudia se emociona), não consigo nem falar...

QUEM: Davi vai com você no cruzeiro?
CL: Ah! E você acha que eu consigo passar quatro dias longe do meu anjo?

"Sou muito possessiva. Quero saber, quero ter as pessoas que amo por perto".



QUEM: Como é o relacionamento de Davi com Márcio?
CL:
No começo, Márcio estava enciumado. No início, a coisa é muito maternal e o pai fica tentando entrar. Mas, agora que Davi cresceu mais, ele está numa intimidade que sou eu quem está enciumada. Mas ele fala é “mamã” e não “papá” (risos)!

QUEM: Então, você é ciumenta?
CL:
Olha, acho que não sou ciumenta. Mas sou muito possessiva. Quero ter as pessoas que amo por perto.

QUEM: Como descreveria seu casamento hoje?
CL:
Sabe “Halo”, (música) de Beyoncé? Eu estou cantando no show, é para ele. Nunca pensei que isso fosse possível, que alguém pudesse ser meu anjo. Mas eu sinto a auréola de Márcio me protegendo, como diz a música. Esse tempo todo que estamos juntos, ainda olho para ele e acho que ele é minha paixão da escola. E sei que vou ficar velha ao lado do Márcio.

QUEM: Sabe como?
CL:
Eu sei. Pode escrever isso! Bem lá na frente, eu e você estaremos conversando, nós dois bem velhinhos, e eu continuarei com o Márcio, também velhinho.

QUEM: E como será essa Claudia velhinha?
CL:
Alegre... Acho que vou ser daquelas vovós que ficam brincando com os netinhos, rolando no chão e fazendo bolo.

QUEM: Você cozinha?
CL:
Adoro cozinhar! Só não gosto de limpar a bagunça... Gosto de pratos criativos. Faço um cuscuz marroquino que tem um segredo. Não vou contar na entrevista, mas é um tempero especial. Um dia eu faço para você. Mas também faço o básico, arroz, feijão, carne. Gosto de cozinhar desde sempre, desde o começo.

QUEM: Estava vendo umas fotos desse seu começo...
CL:
Era tão triste a situação, não é? No início do Babado Novo, eu não tinha figurino e cantava em showmício com um maiô preto das minhas aulas de natação. Então, eu tinha que customizar, sabe? Improvisar, usar uma saia jeans com uns colares baratinhos pendurados nela. Hoje em dia vejo as fotos e fico chocada. Mas eu era besta, quando ia fazer TV, por exemplo, eu já ia pronta.

QUEM: Não passava pelo maquiador da emissora?
CL:
Eu fazia tudo sozinha, tinha vergonha. Mas também aprendi bem, olha (diz, apontando o rosto). Até hoje eu faço escova, faço minhas maquiagens. Até as de shows. Colo cílios dentro da van, com tudo trepidando, colo o (cristal) Swarowski. Antes era purpurina, hoje é Swarovski!

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